sábado, agosto 20




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Desculpe-me, meu amor, se acho que nesse planeta há poucas coisas mais gostosas de se ouvir do que o farfalhar das páginas, o roçar dos dedos no pedaço de papel com toda sua ansiedade em virá-lo; não é culpa minha se maquiagem, cartas de papelaria e recados deixados na caixa de mensagens não me satisfazem, não me apetecem. Desculpe-me, também, se dos rascunhos que você arremessa eu retiro poesias; é que sempre gostei mais da essência, do que é espontâneo, imperfeito e cem por cento reciclável. Admito, gosto de viver assim, com minhas asas abertas planando a grandes alturas e meus olhos maravilhados mirando ares ainda mais altos, mais tranquilos, mais felizes. Talvez você não compreenda e não me espanto; sei que bazófia e prosápia fazem parte do seu alicerce, e acrescento que sua insistência em dizer que partilhar cafezinho sem açúcar com solidão é passatempo predileto me desgasta. Peço perdão por não exceder suas expectativas, por sentir ternura no toque do vento e adorar seu adorno em meus cabelos; é que não sou poetisa mas a própria poesia personificada, e como tal, caso rosas com bromélias e girassóis com alecrins. Metáforas, registros de palavras e ponta de pena molhada com tinta para pergaminho tem fragrância de amor, para mim. Então, desculpe-me mais uma vez, meu doce amante, se suas dosagens de paixão não me alimentam ou se eu não quero encadear-me a você com essas correntes de plástico; é que em mim moram tão somente um pedaço do que eu quero ser, umas metades inteiras e inspirações ambulantes. Eu vivo dessas palavras sem sentidos, não de peças de quebra-cabeças que parecem não me acrescentar. Dos vãos entre nós eu faço reciclagem, nos vazios sem espaço eu ponho amor não correspondido. E alaga, e transborda, e completa.
Desculpe-me, anjo sem asas, se desejo voar até o ápice do infinito…